terça-feira, 23 de abril de 2013

Análise do poema “Violoncelo”

Violoncelo 
Camilo Pessanha


Chorai arcadas
Do violoncelo! 

Convulsionadas, 
Pontes aladas 
De pesadelo... 
De que esvoaçam, 
Brancos, os arcos... 
Por baixo passam, 
Se despedaçam, 
No rio, os barcos. 
Fundas, soluçam 
Caudais de choro... 
Que ruínas, (ouçam)! 
Se se debruçam, 
Que sorvedouro!... 
Trêmulos astros, 
Solidões lacustres... 
_ Lemes e mastros... 
E os alabastros 

Dos balaústres! 
Urnas quebradas! 
Blocos de gelo... 
_ Chorai arcadas, 
Despedaçadas, 
Do violoncelo. 

Camilo Pessanha foi um poeta simbolista português que se destacou, entre outras características, por seu pessimismo decadentista. Em seu poema “Violoncelo”, podemos observar termos que sugerem essa sua característica, como “pesadelo”, “solidões” e “despedaçadas”, expressões que nos remetem a um negativismo exacerbado sugerido pelo poeta. É possível notar em seus versos, ainda, uma musicalidade muito forte, característica essa de extrema importância para o Simbolismo, o que se pode perceber na rima de “arcadas” com “convulsionadas” e “aladas”; “violoncelo” com “pesadelo”. Isso acontece não só com a primeira estrofe (utilizada no exemplo acima), mas também em todo o poema há um esquema de rimas entre primeiro verso, terceiro e quinto. Os demais versos em cada estrofe rimam entre si. Outra característica a se observar é a metrificação: o poeta utiliza minuciosamente versos com quatro sílabas poéticas, demonstrando importar-se não só com o conteúdo como também com a forma. É interessante perceber a utilização por parte do poeta do símbolo “violoncelo” a fim de representar a música.

Um comentário: