sexta-feira, 3 de maio de 2013

Processos de formação de palavras

Toda língua reflete as condições da sociedade que utiliza e acompanha as transformações que ocorrem ao longo da história. O compartimento da língua mais sensível às mudanças históricas é o léxico. Por necessidades objetivas ou subjetivas, esse repertório deve ser realimentado com palavras novas: de um lado, com o avanço da ciência e da técnica, novas realidades vão sendo descobertas e precisam ser nomeadas; de outro, o homem vai reinterpretando dados e acontecimentos e, para tanto, pressente que as palavras já existentes não servem para traduzir os novos sentidos decorrentes dessas reinterpretações.
Para suprir essas necessidades, as línguas em geral têm dois caminhos: emprestar palavras de outras língua ou criá-las com
recursos próprios. O mais comum é o segundo procedimento, pois todas as línguas dispõem de processos de formação de palavras.
Temos, assim, como
processos morfossintáticos:

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derivação (prefixal: bissexual, neonazista / sufixal: fashionistas, funkeiro / parassintética: entristecer, engordar)
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composição (vocabular por justaposição: bate-boca, homossexual / vocabular por aglutinação: planalto, pernilongo / vocabular por truncamento: portunhol, cantriz / sintagmática -> constituída pelas lexias complexas: produção independente, cesta básica) 

- redução (derivação regressiva: agito -ar, amasso -ar / abreviação: foto -fotografia-, cine -cinema-)
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reduplicação (zum zum, tique-taque)

Os processos mais produtivos de formação de palavras são a
derivação e a composição. A derivação é o processo pelo qual se obtêm palavras novas (derivadas) pela anexação de afixos à palavra-base. Pode ser prefixal, sufixal ou parassintética. Já a composição é o processo pelo qual se unem duas ou mais palavras para a formação de uma palavra composta, com nova significação. A composição vocabular pode ser feita por simples justaposição de bases livres ou presas, por aglutinação de bases ou por truncamento. Há, também, a composição sintagmática, em que podemos exemplificar com lexias complexas: cesta básica, conta corrente, pão de forma.
O processo de
redução consiste na subtração de algum morfe ou segmento terminal da palavra-base ou, ainda, da abreviação de longos títulos. A redução pode ser vocabular ou sintagmática. Na redução vocabular, há a derivação regressiva e a abreviação. Na redução sintagmática, há formação de unidades léxicas por meio da combinação da(s) letra(s) inicial(is) da(s )palavra(s) que compõe(m) um sintagma.
O processo de
reduplicação consiste na repetição de vogal ou consoante, acompanhada quase sempre de alternância vocálica, para formar uma palavra imitativa. Chamam tal processo de onomatopeia.


Outros processos de formação de palavras:

- hibridismo: consiste na formação de palavras pela reunião de morfemas de idiomas diferentes.
Ex.: televisão (tele [grego] + visão [latim]);
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estrangeirismo: é a apalavra estrangeira empregada na língua portuguesa. Exs.: shopping, Twitter;
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neologismo: é a apalavra de criação recente na língua. Ex.: piriguete.

Há, ainda, os
processos de extensão metonímica, que consistem no emprego cotidiano do nome da marca registrada por determinado produto. Ex.: bombril (“Bombril” é a marca do tal produto). Segundo Azeredo, este emprego de uma palavra fora de sua classe normal recebe o nome de conversão ou derivação imprópria.
De acordo com Celso Cunha, a derivação imprópria não deve ser incluída entre os processos de formação de palavras, pois pertence à área da semântica e não à da morfologia. Bechara pensa diferente: para ele, a conversão não deve ser chamada de derivação imprópria, uma vez que a conversão não repercute na estrutura do significante de base como nas demais derivações.
Além deste processo, há o de extensão metafórica, cujo processo ancora-se no sistema metafórico convencional que fundamenta nossa linguagem.




AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos de Gramática do Português. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Manual de Morfologia do Português. Campinas/Juiz de Fora: Pontes, Ed. da UFJF, 2005.

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