quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Análise do poema "Anjo és"

           Anjo és 

                                                  Almeida Garrett


Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher,
Jamais o há-de ter em mim.
Anjo és, que me domina
Teu ser o meu ser sem fim;
Minha razão insolente
Ao teu capricho se inclina,
E minha alma forte, ardente,
Que nenhum jugo respeita,
Covardemente sujeita
Anda humilde a teu poder.
Anjo és tu, não és mulher.

Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua frente anuviada
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios d'amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?

Não respondes - e em teus braços
Com frenéticos abraços
Me tens apertado, estreito!...
Isto que me cai no peito
Que foi?... Lágrima? - Escaldou-me
Queima, abrasa, ulcera... Dou-me,
Dou-me a ti, anjo maldito,
Que este ardor que me devora
É já fogo de precito,
Fogo eterno, que em má hora
Trouxeste de lá... De donde?
Em que mistérios se esconde
Teu fatal, estranho ser!
Anjo és tu ou és mulher?

O poema "Anjo és", de Almeida Garrett, é um dos melhores exemplos da visão da mulher no Romantismo. Nele, pode-se perceber o exagero no poder da figura feminina: ela é capaz de dominar um homem, o que se observa em " que me domina teu ser o meu ser sem fim"; "minha alma forte anda humilde a teu poder".Neste poema, Garrett mostra-se perturbado com a figura feminina: ele não consegue saber se é um anjo ou uma mulher. O eu lírico percebe a idealização do ser feminino: "é bela", remete ao sensualismo com as expressões: "frenéticos abraços"; "este ardor que me devora"; "fogo eterno", e tais características o fazem acreditar ser ela uma mulher, tamanha sua beleza e sensualidade.Entretanto, ele também acredita que ela possa ser um anjo, pois ela tem poder, ela o domina, faz perder a razão e inclinar-se ao que ela determina: "E minha alma forte anda humilde a teu poder".Este poema de Garrett nos remete às características do Romantismo, que são o exagero do sentimentalismo, havendo bastante descrição, egocentrismo: neste texto, o único tema a ser tratado é a figura feminina (anjo ou mulher?) e sua reflexão sobre ela. Isso mostra um individualismo muito grande, uma vez que só fala sobre o que ele acredita e nada além.

8 comentários:

  1. Que características da imagem do anjo ele não encontra na mulher???

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    1. Laura, a resposta para sua pergunta está na análise feita, logo abaixo do poema. Dê uma conferida!
      Abraço!

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    2. Laura, a resposta para sua pergunta está na análise feita, logo abaixo do poema. Dê uma conferida!
      Abraço!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. quais sao os rimas encontrados no poema?

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  4. Quando se fala da estrutura externa e interna de um poema, a que se refere?

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